O vale dos Suicidas - Contos & mais Contos

20/02/2020

Meu nome é Jessie e há sete anos atentei contra a minha própria vida, me jogando de ponte Bay Bridge em direção a uma aterrissagem fatal. O que me pareceu o fim das minhas dores se tornou o início dos meus maiores pesadelos. Enquanto percorria meu trajeto até o vale, fui dominada por uma terrível força que me proporcionava sensações desesperadoras de tormento e dores lancinantes, como facas rasgando minha carne e brasas queimando minhas entranhas. O que seria uma rápida viagem me pareceu um trajeto doloroso, angustiante e sem fim. Quando cheguei ao temido vale dos suicidas, encontrei um lugar com características primitivas e com um odor característico de enxofre. Através do seu paredão de rochas era possível sentir o calor que dali emanava. Sua atmosfera era negra, fria e tenebrosa. O ar quente e úmido se misturava aos mais fétidos odores, sendo capaz de sufocar qualquer um que ali permanecia. A vegetação não era a das mais bonitas. As plantas ali presentes eram secas e mortas, sem qualquer resquício de vida. A água que das pedras escorria era fedida e imunda. Gritar, gemer e implorar por socorro não foram suficientes para me levar a uma realidade melhor e mais agradável. Eu não queria ficar naquele lugar horrível e obscuro, sentindo as piores dores e sensações. O problema era que aquele lugar fora resultado de uma escolha feita por mm em vida. E agora eu deveria arcar com meus atos errôneos na morte. Enquanto perambulava por aquele lugar em busca de uma saída, não pude deixar de notar um vasto pântano que resultava na saída dali. Tomada por uma sensação momentânea de esperança, decidi atravessá-lo, acreditando que logo chegaria ao outro lado e me livraria de todo aquele tormento. Ao mergulhar meus pés naquela água podre, senti um leve formigamento que lentamente invadiu meu corpo. Dezenas de corpos em pedaços humanos boiavam ali e a cada avanço meu, notei que o formigamento aumentava cada vez mais, tornando-se insuportável e me obrigando a retornar à margem. Enquanto vagueava sem rumo, percebi muitas cavernas e paredões rochosos. Homens e mulheres maltrapilhos e cambaleantes gemiam de dor enquanto caminhavam a passos trôpegos para lugar nenhum, sem realmente saber o que queriam ou aonde iriam parar. Por todo canto havia pessoas mutiladas, com pescoços quebrados e tombados para o lado ou com buraco de bala em seus corpos, todos carregavam um olhar vazio e triste, balbuciando palavras que ninguém poderia entender ou gritando a plenos pulmões, desesperados por ajuda, fartos de tanto sofrimento que sentiam em sua pele e ainda iriam sentir. E eu? Eu sou apenas mais uma pobre infeliz alma suicida vagando sem rumo e em busca do consolo enquanto procuro me arrepender do meu maior pecado.

Bem-Vindo ao vale dos suicidas, um lugar onde as trevas, a dor e o sofrimento são recorrentes, insuportáveis e parecem não ter fim.

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